Morro num palco à busca de um aplauso,
E tu esperas, sombria, o desaplauso.
Quero a fama que tanto me devora,
E tu nas sombras, magoada, a toda a hora.
Quero o brilho que a vida me promete,
E tu observas, perdida na corrente.
Mas nestes tempos de fúria e tempestade,
Raros são os momentos de verdade.
Tu és a sombra colada ao meu destino,
A ver a queda que sinto no caminho.
Anseias ver-me cair no esquecimento,
E eu só procuro um breve átimo de alento.
Quero a fama, quero tudo o que me escapa,
E tu és o silêncio que me mata.
As lembranças que vagueiam pela mente,
Em sonhos que me chamam tristemente.
A minha avara e desmedida ganância
Encontra a tua amarga e fria fragrância.
Qual veneno que procura me alcançar,
És tu a única que sabe ainda amar.
Estiveste em cada ovação que conquistei,
Mas és memória no palco que pisei.
Aguardas só que as cortinas venham baixo,
E as mágoas brotem no pranto que desfaço.
És o fantasma que habita a minha história,
Que volta sempre a ensombrar qualquer vitória.
O medo cresce: o tempo quer-me dobrar,
E mais uma ruga começa a despontar.
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